O projeto do veículo autônomo é de autoria do Laboratório de Computação de Alto Desempenho (LCAD), da UFES, e tem como motivação principal proporcionar mobilidade a pessoas com deficiência física e visual. Os pesquisadores afirmam, porém, que no futuro o veículo poderá ser controlado até mesmo por pensamento, possibilitando, assim, que ele seja operado por pessoas com dificuldades de fala e outros tipos de deficiência.
Capaz de andar sozinho pelas ruas, o carro consegue ainda fazer curvas e parar quando uma pessoa passa na sua frente ou quando um obstáculo bloqueia a pista. Isso se tornou possível porque os pesquisadores deram uma espécie de cérebro e de olhos ao veículo. O cérebro nada mais é que um computador instalado no porta-malas do carro, que processa as informações fornecidas por um conjunto de três pares de câmeras e um sensor laser, chamado Velodyne (um detector de luz e profundidade), que fica no alto do veículo.
Funcionamento — Posicionado no capô do carro, o laser faz um movimento de 360º durante todo o tempo em que o carro está em movimento. Com alcance médio de 70 metros, ele funciona emitindo feixes de luz invisíveis ao olho humano, que rebatem nos objetos ao redor e retornam ao sensor. Assim, o cérebro do carro consegue mapear todo o ambiente em tempo real.
As câmeras, que também ficam no capô, funcionam em pares, a fim de proporcionar uma visão binocular, semelhante à do homem, que fornece a noção de profundidade e distância em relação ao objeto.
“Para estar nas ruas o carro ainda precisa aprender as leis de trânsito. Hoje, se ele chega a uma rua em que é proibido entrar, não reconhece isso, e pode acabar entrando na contramão”, conta Cayo Fontana, pesquisador do LCAD envolvido no projeto. A equipe agora trabalha para que, com uso das câmeras, o veículo consiga ler as placas de trânsito, e, com isso, aprenda a reduzir a velocidade, por exemplo, quando passar por uma placa que solicite velocidade menor do que aquela em que está trafegando.
Os pesquisadores estimam que esse tipo de veículo seja comercializado em dez ou quinze anos. De acordo com Fontana, os objetivos vão além de pessoas com deficiência, podendo se tornar uma tecnologia para uso de todos. “A Organização das Nações Unidas (ONU) aponta os acidentes de trânsito como uma das principais causas de morte no mundo. Ter robôs na pista, sem a intervenção humana, poderia reduzir e até zerar o número de acidentes”.
Acidente no Mais Você — A intervenção humana foi exatamente o que causou o acidente com Ana Maria Braga nesta manhã. Durante demonstração do carro do LCAD, a apresentadora foi atingida pela porta do passageiro esquerda, que estava aberta, foi derrubada e acabou levando cinco pontos na boca. O carro, no entanto, não estava no modo autônomo. Após a demonstração, diz Fontana, um dos membros da equipe desligou o computador que controla o veículo, mas acabou esquecendo de puxar o freio de mão. Como estava estacionado em uma rua íngreme, o carro andou sozinho. "No modo automático, o carro fica parado em ladeiras. No momento do acidente, no entanto, ele estava no modo manual, e se comportou como um carro qualquer”, diz o pesquisador. “Foi uma falha 100% humana.”